Uma visão otimista
Vivemos tempos intensos. Demis Hassabis, o cérebro por detrás da DeepMind e um dos nomes mais sonantes no mundo da inteligência artificial (IA), descreve este momento como uma encruzilhada: por um lado, a promessa de descobertas médicas, novas fontes de energia e soluções para problemas globais como o acesso à água; por outro, os receios de sistemas criados com valores errados ou sem segurança, com riscos difíceis de controlar.
Hassabis não esconde o seu optimismo. Acredita que estamos a cinco a dez anos de alcançar a chamada AGI — inteligência artificial geral — capaz de replicar as capacidades cognitivas humanas. Para ele, esta revolução será comparável, ou até superior, à da Revolução Industrial. Mas reconhece também o perigo, como as más mãos ou as más intenções podem transformar uma ferramenta de progresso num instrumento de destruição.
No campo do trabalho, Hassabis mantém uma visão positiva. Os empregos, argumenta, não desaparecerão simplesmente: transformar-se-ão. Tal como aconteceu com a internet, surgirão novas funções, muitas vezes mais interessantes, criadas pela necessidade de trabalhar lado a lado com estas máquinas. “Durante os próximos anos, teremos ferramentas que nos tornam quase super-humanos na criatividade e na produtividade”, afirma. Ainda assim, deixa um aviso aos jovens: dominar estas tecnologias, compreender a sua lógica e aprender a usá-las é essencial para garantir relevância no futuro.
A entrevista revela também a crença de Hassabis numa “era de abundância radical”. Se a energia se tornar barata e limpa, problemas como o da água potável poderão ser resolvidos de forma definitiva. Porém, o desafio não é apenas tecnológico, é também social e político. O fundador da DeepMind reconhece que, mesmo dispondo de soluções, a humanidade tem falhado na cooperação global, como se vê na luta contra as alterações climáticas.
Será a IA o motor de um mundo mais justo ou apenas mais uma ferramenta a amplificar desigualdades já existentes? Hassabis prefere acreditar no primeiro cenário. O futuro, porém, dependerá não só dos engenheiros e cientistas, mas da capacidade colectiva de definir valores, regulamentos e princípios que orientem esta transformação.
O caminho está aberto. Cabe-nos decidir se seguimos pela via da esperança ou do receio.